O Orçamento em Rota de Colisão: o que os dados apontam para 2027 — e por que isso importa para investidores

17 de abr. de 2025

Um alerta acendeu no mercado: se nada for feito, o próximo presidente do Brasil, que assume o comando em 2027, pode começar o mandato com o caixa do governo praticamente travado. A análise mais recente da Consultoria de Orçamento do Congresso e do Tesouro Nacional revela o tamanho do buraco fiscal que se desenha no horizonte — e que, se ignorado, pode levar a uma paralisação parcial da máquina pública já no primeiro ano do novo governo.

O nó das despesas obrigatórias

Grande parte do problema está no avanço contínuo dos gastos obrigatórios — como Previdência, saúde, educação, folha salarial e as já famosas emendas parlamentares. Esses compromissos vêm ocupando quase a totalidade do orçamento, comprimindo a chamada despesa discricionária — que é justamente o espaço que o governo tem para decidir onde gastar, como em investimentos e manutenção de serviços essenciais.

Em 2027, esse espaço deve ficar limitado a R$ 70 bilhões, o mínimo necessário apenas para manter o governo de pé. A partir de 2028, a conta piora, com risco real de um apagão na prestação de serviços até meados da década, se nada for ajustado.

O impacto dos precatórios e do novo arcabouço

Outro complicador entra em cena em 2027: os precatórios (dívidas judiciais que o governo precisa pagar) voltarão a ser incluídos no teto das novas regras fiscais. Isso colocará ainda mais pressão sobre um orçamento que já respira por aparelhos.

E não para por aí. O piso obrigatório de investimentos, incluído no novo arcabouço, tende a consumir uma fatia ainda maior das despesas flexíveis: hoje ele representa 24% do total discricionário, mas subirá para 40% em três anos.

O endividamento bate à porta

Enquanto isso, as projeções de endividamento não são animadoras. A dívida bruta do governo deve passar de 81% do PIB em 2026 para quase 90% em 2032, segundo o Ministério do Planejamento. Os juros elevados, o crescimento modesto e a pressão política por mais gastos mantêm o risco fiscal em alta — e colocam um teto no apetite dos investidores por ativos de risco no Brasil.

O dilema político: cortar ou empurrar?

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, já admitiu que o atual arcabouço fiscal pode se tornar insustentável a partir de 2027. A solução passa, inevitavelmente, por reformas — principalmente no corte de benefícios fiscais e revisão de despesas obrigatórias. O problema? O ciclo eleitoral e o ambiente político tornam essas reformas impopulares e difíceis de aprovar no Congresso.

O que isso significa para o investidor?

Para quem acompanha o cenário macro de perto, os sinais não são desprezíveis. Um orçamento engessado tende a reduzir a capacidade de reação do governo a choques, aumentar o risco-país e limitar a atratividade dos ativos locais. Com isso, os prêmios de risco sobem, a política monetária tende a permanecer mais apertada por mais tempo, e os juros longos reagem.

Em outras palavras, essa é uma discussão fiscal — mas com consequências diretas sobre os mercados. E, claro, sobre as decisões de portfólio daqui para frente.